10 junho 2009

Batalha pelo Conteúdo

É o título de uma exposição que está patente no novo Museu do Neo-Realismo, inaugurado em 2007.

O Neo-Realismo, enquanto corrente literária e artística eminentemente portuguesa (grandemente inspirada no neo-realismo italiano), foi uma das linhas de vanguarda intelectual do combate ao regime fascista que oprimiu o nosso país desde os anos 30 até aos anos 70.

Nele participaram Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Lima de Freitas, Júlio Pomar, José Dias Coelho (o pintor de que fala a canção, assassinado pela PIDE em plena luz do dia na zona de Alcântara, em Lisboa), Fernando Lopes Graça e muitos outros grandes nomes da cultura portuguesa do século XX, produzindo um vasto espólio de obras cuja característica dominante era exactamente a da produção artística com cariz ideológico, de resistência e activismo contra o regime.

Daí decorre o nome dado à exposição: «Batalha pelo Conteúdo», que, como afirma o próprio Director do Museu:

"Sobre a palavra “Batalha”, diríamos que ela aparece aqui, tal como em Alves Redol, como metáfora que sublinha sobretudo uma particular defesa dos valores ou dos fundamentos do próprio Neo-Realismo, realizada a maioria das vezes em função de uma oposição bem determinada, expressando uma espécie de dialéctica clara e objectiva que colocava quase sempre em evidência os dois lados da contenda, apostando essencialmente num compromisso com a mensagem social, de apelo cívico e transformador. Batalhar por um futuro melhor, exigindo mais justiça social e uma participação democrática dos cidadãos, constituiu sempre o horizonte pelo qual os neo-realistas se sacrificaram, muitas vezes em prejuízo das suas vidas privadas, no intuito de contribuírem para o bem comum. Na verdade, essa mensagem de esperança colectiva alimentou o vigor de uma geração de escritores e artistas antifascistas que lutaram veementemente contra o obscurantismo que significava a política conservadora e totalitária do Estado Novo, e da sua figura tutelar, Oliveira Salazar. Também por isso, a palavra “Batalha”, apesar da sua conotação belicista, hoje quase politicamente incorrecta, evoca aqui sobretudo um sentido de resistência e solidariedade humanas que não deve cair no esquecimento, sob pena de um eventual retrocesso de resultados sociais inimagináveis."

O país hoje está diferente de quando os neo-realistas tinham que organizar passeios de barco para poderem discutir política, e não existe uma vanguarda intelectual que possa prosseguir a tarefa iniciada por aqueles resistentes.

No entanto, a Batalha ainda continua, porque ficou por cumprir o sonho de Abril, ficou por realizar a justiça social, ficaram pelo caminho muitos dos sonhos que inspiraram os Capitães de Abril e várias gerações de revolucionários portugueses. E os conteúdos, esses, estão normalmente longe dos discursos dos principais partidos, já que a abstracção (e alienação) ideológica convém a quem não confessa os seus intuitos.

Mas para nós, comunistas, os conteúdos são importantes, vitais, até. Porque são as ideias que nos fazem mover, porque temos ideias de um mundo novo, de uma sociedade melhor. E se queremos prosseguir em direcção a esse sonho, então há que exercer a dialéctica apropriada e interpretar este mundo em que vivemos. Da mesma forma que Lenine atravessou a Rússia de comboio numa irrepetível jornada de esclarecimento, cabe-nos agora a tarefa de, utilizando os novos recursos disponíveis, travarmos a Batalha pelo Conteúdo.

Nos nossos blogs, nos nossos sites, nas nossas redes sociais, deve haver um trabalho continuado de aprofundamento das ligações e da divulgação das propostas, dos projectos, dos eventos, das ideias comunistas.

Não nos será oferecido tempo televisivo, isso sabemos, portanto, o trabalho da comunicação do projecto comunista será feito do que os seus militantes fazem: no local de trabalho, no bairro, na escola, na colectividade e na Internet, uma luta continuada, muitas vezes apenas de resistência, mas presente.

Publicado em simultâneo no Cheira-me a Revolução!

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