26 setembro 2006
Umberto Eco: Estamos pagando pela queda do sistema soviético
"O regresso dos nacionalismos, particularmente nos países da Europa central e oriental, deriva essencialmente do processo de liquidação do império soviético." A opinião é do escritor e semiólogo Umberto Eco, em entrevista ao jornal francês Le Figaro nesta segunda-feira (25/9).
A tese de Eco traz comparações com vários momentos históricos. "Os Balcãs continuam a pagar um pesado tributo pelo fim do império romano, assim como o Médio Oriente continua a sofrer as consequências da dissolução do império otomano", teoriza o escritor, que conclui: "Serão necessárias ainda algumas dezenas de anos antes que a queda do sistema soviético seja completamente superada."
Eco está lançando na França o seu mais recente livro, A Passo di Gambero - Guerre Calde e Populismo Mediatico (A Passo de Caranguejo: Guerra Quente e Populismo Mediático). A obra reúne uma série de artigos e discursos escritos entre 2000 e 2005. Ao Le Figaro, o escritor disse condenar a falsa visão de populismo: "O populista não se apoia no povo - mas na sua projecção ideal de uma assembleia, cuja função principal é a de aprovar a sua acção".
Na opinião de Eco, o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, da ultradireitista Força Itália, é um exemplo de político populista sem apelo popular. "O populista evita sistematicamente todo e qualquer confronto real com o povo. Berlusconi jamais ia ao Parlamento, mas reservava seus discursos para os media."
A crise americana
Ao analisar o cenário geopolítico, o semiólogo italiano, nascido e criado na região de Piemonte, faz duras críticas aos Estados Unidos. Segundo Umberto Eco, o país mais poderoso do mundo sofre da perda do senso da história. "É uma patologia característica dos Estados Unidos que está contaminando progressivamente as novas gerações europeias."
Para o escritor, dois problemas coincidem na realidade americana: enquanto o país padece da "perda da memória colectiva", simultaneamente a sua Inteligência "não tem poder". O resultado, diz Eco, atinge diretamente o meio académico. "Os universitários nunca intervêm nos debates dos grandes jornais. E, quando afirmam investir na política, eles interrompem suas actividades académicas, como Brzenzinski e Kissinger".
adaptado do texto publicado n'O Vermelho.org.br, 25/09/06 - 18h54
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