Conversava há dias atrás com uma camarada acerca do post n'O caderno de José Saramago sobre o encontro do Nobel com um antigo deputado colombiano que esteve preso pelas FARC durante vários anos, tendo sido libertado recentemente.
O referido libertado contou sobre a sua experiência e a de outros detidos, a violência empregue pelos guerrilheiros, a desumanidade do tratamento recebido.
Para nós, comunistas portugueses, que somos amantes da liberdade e da paz, que fizemos o 25 de Abril para que acabasse a guerra, que recusámos a luta violenta e armada perante um regime fascista e assassino, é-nos especialmente difícil aceitar que uma luta como a das FARC utilize os meios que foram descritos, mesmo concordando com a justeza das suas aspirações e reivindicações.
No entanto, e sublinhando a ideia de que os fins não justificam os meios, ou pelo menos não todos os meios, temos que olhar para a situação colombiana e para estes factos como se estivessem numa balança: já conhecemos o lado violento das FARC, vejamos agora o lado violento do regime que as FARC combatem:
Guillermo Rivera Fúqueno, sindicalista, comunista, membro do Polo Democrático Alternativo, raptado por forças policiais a 22 de Abril de 2008 e cujo cadáver foi descoberto em 16 de Julho de 2008 numa vala comum no cemitério de Ibagué. Deixa viúva Sónia Betancour e orfãs duas filhas.
Mario Zuluaga Correa, Pediatra e Cardiologista da Asociación Médica Sindical,assassinado a 2 de Janeiro de 2008, em Medellín, Antioquia;
Ramiro de Jesús Pérez Zapata, dirigente da Adida, Fecode, Cut, assassinado a 12 de Janeiro de 2008, em San Jerónimo, Antioquia;
Israel González, secretário geral da Astracotol, Fensuagro, Cut, assassinado a 24 de Janeiro de 2008, em Chaparral, Tolima;
Yebraín Suárez, da Sigginpec, CGT, assassinado a 28 de Janeiro de 2008, em Itagüí, Antioquia;
José Martín Duarte Acero, da Sintrambiente, CGT, assassinado a 2 de Fevereiro de 2008, em Macarena, Meta;
María del Carmen Meza Pasachoa, da Asidar, Fecode, Cut, assassinada a 8 de Fevereiro de 2008, em Tame, Arauca;
Arley Benavides Samboní, da Anthoc, Cut, assassinado a 9 de Fevereiro de 2008, em Balboa, Cauca;
José Giraldo Mamián, da Asoinca, Fecode, Cut, também assassinado a 9 de Fevereiro de 2008, em La Vega, Cauca;
Carmen Cecilia Carvajal Ramírez, de Asinort, Fecode, Cut, assassinada a 4 de março de 2008, em Ocaña, Norte de Santander;
Leonidas Gómez Rozo, do comité de empresa do Citibank, Uneb, Cut, assassinado em sua casa, com extrema violência, a golpes de faca, a 6 de Março de 2008, em Bogotá DC;
Gildardo Gómez Alzate, do Centro de Estudios e Investigaciones Docentes da Adida, Fecode, Cut, assassinado em sua casa, com extrema violência, a golpes de faca, a 8 de Março de 2008, em Medellín, Antioquia;
Carlos Burbano, vice-presidente local de Anthoc, Cut, foi encontrado num contentor do lixo, cruelmente torturado, a 9 de Março de 2008, em San Vicente del Caguán, Caquetá;
Víctor Manuel Muñoz, de Aducesar, Fecode, Cut, assassinado a 12 de Março de 2008, em Codazzi, Cesar;
Manuel Antonio Jiménez, de Cicacfromayo, Fensuagro, Cut, assassinado a 15 de Março de 2008, en Puerto Asís, Putumayo, com marcas de terríveis torturas;
José Fernando Quiróz, de Cicacfromayo, Fensuagro, Cut, assassinado a 16 de Março de 2008 em Puerto Asís, Putumayo;
José Gregorio Astros Amaya, de Aseinpec, CGT, assassinado a 18 de Março de 2008, em Cartago, Valle;
Adolfo González Montes, da Comisión de Reclamos de El Cerrejón, Sintracarbón, Cut, assassinado em sua casa, com extrema violência, a golpes de faca, a 22 de Março de 2008 en Riohacha, Guajira;
Luz Mariela Díaz López (grávida de 7 meses) e Emerson Iván Herrera Ruales, da Asep, Fecode, Cut, assassinados a 1 de Abril de 2008, em La Hormiga, Putumayo.
20 sindicalistas mortos, 19 dos quais em apenas três meses, durante uma série de greves nacionais.
Comunistas que morreram a lutar pelos direitos das pessoas, reivindicando horários e salários mais justos pelo seu trabalho, organizando o Povo contra o regime uribista paramilitar, que conduziu a Colômbia à miséria, violência e morte. Mas estes mortos ninguém chora.
Subscrevo na íntegra a pergunta de Vítor Dias no papeisdealexandria: Porque te callas, Ingrid?
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